domingo, 30 de dezembro de 2012
Educação na Grécia Antiga
A
EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA
Considerações
Iniciais
A
civilização grega teve importante papel na Antiguidade e exerceu profunda
influência na formação da cultura ocidental. A herança cultural deixada pelos
gregos é vasta; abrange conhecimentos científicos, com Pitágoras, Tales,
Euclides e outros, fundamentos filosóficos e políticos, com Sócrates, Platão,
Aristóteles e herdamos também padrões de arte, beleza por meio da arquitetura,
escultura e teatro.
Foi
com os gregos que o problema da educação surgiu e é deles a ideia de que
educação é a preparação para a cidadania. À eles devemos o primeiro esforço
para assegurar o desenvolvimento intelectual da personalidade A periodização
da história da Grécia antiga assim se
constitui: a) Civilização micênica: séculos XX a XII a.C.; b) Tempos homéricos:
séculos XII a VIII a.C.; c) Período arcaico:
séculos VIII a VI a.C.; d) Período clássico: séculos V e IV a.C.; e) Período
helenístico: séculos III e II a.C.
Delimitando,
entretanto, o nosso tema, que é a educação na Grécia Antiga, consideramos a
divisão da educação grega em antigo
período e novo período. O antigo
período grego divide-se em: 1º Idade Homérica e 2º Período Histórico que
compreende a educação espartana e a educação ateniense primitiva.
A
Idade Homérica, que faz parte do antigo período grego, é comumente conhecida
como “Tempos Homéricos” devido ao fato de que nessa época teria vivido Homero,
provável autor de Ilíada e Odisseia. É uma época situada no final da Idade do
Bronze e início da Idade do Ferro quando predominava a concepção mítica do
mundo. Os mitos gregos recebiam forma poética e eram transmitidos oralmente
pelos cantores ambulantes, dentre eles Homero.
Falar
da Grécia implica, inevitavelmente começar por Homero, "o educador de toda
a Grécia" no dizer de Platão. O enfrentamento desse tema se dá através de
uma breve análise sobre as epopeias Ilíada e Odisseia como locus enunciativo do qual serviu de base para o desenrolar de toda
a história seguinte da educação.
Adiantamos,
desde já, que Ilíada canta um episódio da guerra de Troia e Odisseia canta as
aventuras do herói do poema,Ulisses, durantes seus dez anos de peregrinação ao
retornar à Ilha de Ítaca após a Guerra de Tróia. Ambos os poemas inspiram
profunda meditação sobre a condição humana.
Ainda
no antigo período grego, destaca-se como se viu, o período histórico, quando a
educação foi determinada pela instituição dominante – a cidade-estado, ou seja
a polis. Essa instituição é originária da tribo e do Conselho do Período
Homérico e veio a fornecer os ideais e
as bases da educação. A honra de pertencer à cidade-estado foi primeiramente
limitada aos membros das famílias tradicionais dominantes da tribo, que na fase
aristotélica eram as únicas que possuíam “riqueza e valor antigos”, privilégios
esses que, por sua vez, envolviam muitos deveres. As cidades-estados surgiram
por volta dos séculos VIII e VII a.C.
O
período histórico considera os dois modelos de educação da Grécia Antiga: a
espartana e a ateniense. Esparta era
considerada cidade militarizada e Atenas a iniciadora do movimento democrático.
Segundo Franco Cambi (1999, p.82 apud ARANHA,
2011, p.63-64) "Esparta e Atenas deram vida a dois ideais de educação: um
baseado no conformismo e no estatismo, outro na concepção de paideia, de
formação humana livre e nutrida de experiências diversas, sociais mas também
culturais e antropológicas".
Como
se pode notar, a educação desenvolvida em Esparta era diferente dos preceitos
educativos de Atenas. Contudo, os dois principais polos da educação grega têm
sua origem nessas duas civilizações, que embora distintas, marcam o modelo de
educação preconizado pela Grécia. Em determinado momento Atenas representa
alguns valores que ainda hoje podemos perceber, em outros momentos é a educação
de Esparta que se destaca.
Tratando
da educação espartana, no antigo período grego, Paul Monroe (1979, p. 34) diz
que "o objetivo da educação espartana era dar a cada indivíduo tamanha
perfeição física, coragem e hábito de obediência completa às leis, que o
tornassem o soldado ideal, insuperável em bravura; um soldado em que o
individuo estivesse absorvido pelo cidadão". Essa caracterização trazida
por Monroe acerca da educação de Esparta revela uma das maiores preocupações
desse modelo educativo. Uma educação muito bem articulada em torno do preparo
da formação integral do indivíduo.
Segundo
esse autor, foi o mais bem sucedido dos planos extremos de educação por
imposição. "O Estado espartano possuía uma estabilidade e um recorde de
triunfos militares inigualáveis por qualquer outro Estado grego; o homem
espartano era a bravura, o vigor, a tenacidade e o domínio de si mesmo, o que
muitas vezes faltava aos outros gregos" (MONROE, 1979, p.34-35).
Relativamente ao conteúdo, era
predominantemente físico e moral, não atentando para o intelectual e estético
Toda a educação do menino, ou melhor, sua vida, era pública. Os espartanos estudavam música, canto e dança coletiva, predominando
as atividades lúdicas até os doze anos Passada essa fase, aumentava o rigor de
aprendizagem, sendo a educação física verdadeiro treino militar
A
educação ateniense no antigo período grego, por sua vez, pouco ou nada se
identificava com a espartana. Ainda
segundo a concepção ateniense de
Estado fez surgir a figura do cidadão da pólis. Ao lado dos
cuidados com a educação intelectual, para que melhor pudesse participar dos destinos
da cidade. Com a ascensão da classe dos comerciantes, em oposição à antiga aristocracia, impôs-se outra forma de
exercício de poder e, portanto, uma nova educação. A educação ateniense
trata-se de um tipo de formação integral,
a chamada paideia (ARANHA, 2011).
O
novo período grego compreende, primeiro, o período de transição em ideias
educacionais, religiosas e morais, durante e após a idade de Péricles, quando
se desenvolveu o novo pensamento filosófico e foram formuladas as novas
práticas educativas, e segundo, o período que se estende à conquista
macedônica, ou seja, após o fim do século IV a.C, até a completa fusão da
cultura grega com a romana.
O
final do século IV a.C é marcado pela decadência da cidades-estados, chegando à
perda total de autonomia, em decorrência das contínuas guerras entre si. Os
macedônios, fortalecidos, iniciavam conquistas aos territórios gregos,
culminando com a dominação sob o império de Alexandre, que assimilou os novos valores da cultura cultura grega, dando
origem ao helenismo.
O
helenismo seria, então, a fusão da cultura grega com a oriental, produzindo uma
nova forma de expressão (séculos III a.C ao século II a.C)
Manacorda
(1989) sustenta que no período helenístico, a antiga paidéia torna-se
enciclopédia, que significa literalmente “educação geral” e consiste na ampla
gama de conhecimentos exigidos para a formação da pessoa culta. À medida que
ampliavam os estudos teóricos, restringia-se o tempo dedicado aos exercícios
físicos.
Importante
destacar aqui, a cidade de Alexandria, fundada na foz do rio Nilo, que foi um importante centro de
estudos superiores, constituído por museus, escolas e bibliotecas. Por fim, o
presente trabalho destaca a atuação dos sofistas, de Sócrates, Platão e Aristóteles,
dedicando aos sofistas e a cada um desses pensadores/educadores algumas linhas
sobre seus modos de ensinar
1
Idade Homérica
1.1
O locus enunciativo da educação
grega: Ilíada e Odisséia
Os
primeiros registros da história da educação, ou melhor, os primeiros registros
que dão base para a futura história de educação implicam o conhecimento da
sociedade grega antiga, e por conseguinte o trabalho desempenhado por Homero.
Essa concepção é plausível à medida em que se pensa a categoria de universalização
da educação, isto é, desde os primeiros momentos da educação grega o princípio
mantedor é o locus enunciativo da
educação que implica um lugar a ser ocupado. Noutras palavras, há uma
preocupação com a educação pelos gregos, qual é o lugar que o indivíduo deve
ocupar em sociedade?
Essa
preocupação relaciona-se com um objetivo, isto é, a educação grega baseava-se
em princípios de formação do indivíduo. Nesse sentido é que podemos pensar a
educação homérica, ou melhor, o período homérico da educação grega, pois é
nessa etapa que está presente o fulcro da história da educação. Um fator
bastante oportuno de destacar para fundamentar que esse período da educação
grega abarca o cerne da história da educação subsequente é o surgimento gradual
da polis e o domínio da escrita.
Pode-se citar Jaeger (1986) quando diz que toda educação é resultado de uma
consciência viva de uma norma que rege a comunidade humana.
À
medida em que vai sendo instalada a polis
e o domínio da escrita, algumas normas também vão surgindo afim de educar o
indivíduo para se comportar de determinada maneira dentro dessa nova
perspectiva comunitária. Tanto a polis
quanto a escrita são fatores cruciais para a implementação de normas a serem
seguidas e determinados objetivos a serem alcançados. Data-se portanto a Ilíada
e a Odisseia de Homero como as obras mais antigas que são denominadas como
documentos de literatura grega que assegura um tempo histórico significativo.
A
grande importância então da epopeia homérica juntamente com a paideia é o
manifesto da língua, das artes e da fé religiosa pautada do politeísmo. Faz-se
necessário uma observação neste ponto do trabalho - a paideia será detalhada
com maior afinco nas páginas seguintes, o objetivo dessa primeira parte é
mostrar como a Ilíada e a Odisseia marcam um locus enunciativo do qual serviu de base para o desenrolar de toda
a história seguinte da educação.
Quando
apresenta-se um locus enunciativo
deve-se pensar o lugar de onde se fala, para tanto precisa-se contextualizar o
momento histórico para se ter uma noção mais plausível da atuação da figura de
Homero da educação grega. A literatura grega tem seu marco inicial na Ilha de
Creta, nesse período houve a fusão entre os valores gregos com as tradições das
várias regiões conquistadas, principalmente a asiática e consequentemente
marca-se o período em que há um grande avanço da cultura grega por meio da arte
em geral. Todo esse contexto de exploração e conquistas, viagens e dominações,
avanço da cultura e o apogeu das artes estimularam a literatura que surge
concomitantemente ao domínio da filologia e a crítica literária.
Essa
etapa marca um posicionamento tomado pela Grécia como uma potente cultura. No
entanto, seu regime de dominação entra em declínio quando há a invasão da Ilha
de Creta e como afirma Brandão (1997) é o período denominado "Idade das
Trevas da Grécia" marcado pelo retrocesso tanto cultural, como social e
econômico. De modo muito breve foi mencionado duas facetas da sociedade grega,
o primeiro como o momento de instauração de seu poder social e cultural que
fundou uma maneira de viver, e num segundo momento a crise desse império, mas o
que isso significa de fato?
Homero
está situado exatamente nesse processo de transformação da sociedade grega, e é
nesse cenário de conflito e contradição que Ilíada e Odisseia ganham vigor,
pois resgatam a base da educação e dos princípios do pensamento grego. Logo, a
construção tanto da Ilíada e da Odisseia trazem consigo um passado que era
contado e rememorado, era um resgate que incitava a preservação de valores
tradicionais que são validados com a escrita e passam a desempenhar um papel
altamente pedagógico no reestabelecimento da sociedade grega.
Antes
da Ilíada e da Odisseia há a tradição da poesia oral, a oratura (literatura oral) como chamam os críticos, que eram
recitadas e transmitidas pelos bardos profissionais. Contudo, quando Homero
lavra toda essa fortuna cultural em texto escrito, isso se torna um documento,
um registro, e agora torna-se um instrumento que não corre o risco de se
perder, de alterar e assim marca o resgate da tradição grega.
A
composição de Ilíada e Odisseia representa um alto teor literário que além que
fornecer elementos basilares para a formação e educação do cidadão, influenciam
na composição da literatura no mundo. A Ilíada
e a Odisseia são
os textos de base da paideia grega. Nas epopeias homéricas encontram-se
personagens que exprimem a bravura, honestidade, sabedoria e um elevado senso
de justiça. Aquiles, Ulisses e Heitor são exemplos desses modelos, pois se
tornaram heróis modulares para os gregos que deveriam buscá-los como exemplo. O
homem grego aprende desde muito cedo a respeitar os seus deuses e a crer em
determinados valores. Esse modelo educativo que recorria a essas histórias,
ainda que fantásticas e ficcionais, objetivavam a formação de um cidadão ético,
justo e sábio, portanto, a formação de homem aristocrata. Os heróis encontrados
na Ilíada e na Odisseia incorporam as
características fundamentais de ser humano da época. Justamente por prescrever
regras e determinados modos de viver é que os textos homéricos tornam-se
fenômenos estruturadores da cultura grega, fixando-se como o núcleo da educação
daquela sociedade.
É interessante
registrar aqui como a Ilíada e a Odisseia funcionam para Jaeger (1986, p.40) na
sua obra Paideia: a formação do homem
grego. A primeira obra nos apresenta o estado absoluto de guerra, tal como
devia ser no tempo das grandes migrações das tribos gregas. A Ilíada representa um tempo onde os
valores ideais estavam centrados na coragem e na honra, incluindo sempre a
força bruta. Já a Odisseia percebe-se
um tempo de paz, retrata o pai e marido que precisa voltar a sua pátria e
reassumir o seu papel na família e na sociedade.
Pode-se concluir que
Homero apesar de suas diferenças estruturais na Ilíada e na Odisseia, formou o
ideal pedagógico da Grécia. Esse que influiu em todo o pensamento ocidental e
perpetuou até a contemporaneidade. O modelo criado por esse poeta foi usado
para educar milhares de gregos ao longo dos séculos e até hoje os heróis
presentes nos mitos são buscados quando se precisa de um exemplo de homem
completo, verdadeiro, possuidor de todas as características que compõe o homem
perfeito, ideal.
2
Período Histórico
2.1 Educação espartana
Esparta tem um lugar privilegiado na história da
educação, pois como se pode observar é uma educação cavalheiresca e homérica, é
uma cidade eminentemente militar e aristocrata. Esparta é
vista como uma cidade conservadora por excelência mantendo com férrea
obstinação os velhos costumes já em desuso em outras partes da Grécia.
Sabendo-se que as fontes que descreve a educação espartana são tardias, podemos
citar Xenofronte e Platão que
representam a faceta racionalista de Esparta.
Nos
séculos VIII-VI a. C. encontramos uma Esparta que se torna um Estado Guerreiro,
um imenso poder militar tornando-se um dos estados mais vastos da Grécia. É bom
citar que a educação dos jovens do sexo masculino já era voltada para educação
militar e desde pequenos aprendiam os ofícios das armas. Sendo assim, a
educação espartana passa a se tornar uma educação de soldado não mais de um
cavalheiro.
Contudo,
a educação espartana mantém seu caráter de mudança. Após uma educação
militarista e a educação baseada no cavalheirismo, surge então a prática dos
esportes hípicos e atléticos. Tal educação tinha o caráter de ostentação dos
Jogos Olímpicos para poder avaliar o lugar de honra que se asseguravam os
campeões. A primeira vitória espartana foi na 15ª Olimpíada Esparta, na ocasião
tiveram quarenta e seis vencedores espartanos entre os oitenta e um vencedores
olímpicos e vinte e um espartanos entre os trinta em seis vencedores da prova
conhecida como corrida de pé. O grande sucesso de Esparta se deve às qualidades
físicas dos atletas e ao método de seus técnicos para quem o esporte não era
apenas uma modalidade masculina, mas as mulheres também podiam participar.
A
cultura espartana não era somente física, Esparta não deixava de lado as
artes,o elemento intelectual era representado também pela música passando pelos
seus diversos aspectos, pela dança e até mesmo a ginástica. Espata enquadra-se
nas manifestações coletivas que são instituições do Estado, ou seja, as grandes
manifestações religiosas. Os sacrifícios aos deuses protetores da cidade
serviam de pretexto à procissão solene.
Tempos
depois Esparta deixa de lado as artes, os esportes atléticos e se torna
totalmente militarista. A partir desse momento há uma cidade de guerreiros,
organizada totalmente em função a necessidade do Estado.
As
crianças são interesse antes mesmo de ter nascido, as crianças nascidas belas,
robustas e bem formadas são aceitas, já as raquíticas e disformes são mortas.
Até os sete anos as crianças ficam sob o cuidado da família. Ao se completar os
sete anos o estado convoca as crianças que devem servir ao estado até a sua
morte. Dos sete aos vinte e um anos tem uma formação voltada para o
militarismo. Aos vinte e um anos passando por toda sua formação e pelos três
ciclos que são lobinho, escoteiro, pioneiro e depois eram divididos em tropas.
Mas
esta educação do soldado atribui tanta importância à preparação moral quanto à
preparação técnica. A educação espartana é voltada totalmente para formação do
caráter, tudo é sacrificado à salvação e ao interesse da comunidade nacional,
uma característica eminentemente da formação masculina. Por outro lado, a
educação das meninas era voltada para o canto e a dança, no entanto, era
primordial que as meninas fossem preparadas para ser mãe e fecundar filhos
virtuosos.
Esparta
era uma cidade de grandezas, bela e justa e dava valor aos moços e à harmonia
de suas musas. Contudo, Esparta se declinou e acabou entrando num processo de
amadurecimento muito precoce, ela se tornou primordialmente num regime
militarista ao qual acabamos que estudar.
2.2
Educação Ateniense: a contribuição dos sofistas na formação educacional na Grécia
A
educação ateniense, totalmente oposta da educação espartana, se dedica à
formação do bom cidadão. Desde muito cedo a criança recebe uma educação
intelectualizada, pois em Atenas o bom cidadão é aquele que contribui para a
questão da formação política e participa racional e conscientemente dela. O Estado
em Atenas, ao contrário de Esparta que monopoliza a educação, fica longe do
processo educacional.
Devemos lembrar também que era lei os pais
escolherem os professores que iriam dar aulas para seus filhos, estes até os sete anos, eram educados em casa com a convivência dos
pais. Os alunos recebiam uma educação inicial composta de música e
alfabetização privilegiando artes, literatura e principalmente a política. A
partir dos trezes anos, os mais ricos começavam a ser educados em grandes
ginásios, locais nos quais os meninos eram reunidos para estudar, entre outras
áreas a matemática e a filosofia. No ginásio também recebiam educação cívica e
educação física.
Para os menos abastados, a idade de treze anos
marca o início do aprendizado de uma profissão. Dos dezesseis aos dezoito anos
os jovens atenienses recebiam treinamento militar mais livre do cuidado do
pedagogo convivendo com jovens da sua idade e com adultos. Após o final do treinamento a elite continuava
seus estudos nas academias como a de Platão e refinavam ainda mais seus
conhecimentos em filosofia, oratória e política contribuindo para a
formação do cidadão politizado.
Os
sofistas surgem na passagem da tirania e da oligarquia para a democracia na
segunda etapa do século V a.C. num ambiente de intenso cosmopolitismo. Os homens de letras, artes e ciências provenientes de
várias regiões vinham a Atenas e permaneciam em intensa troca de
saberes numa profícua circulação de ideias. Poetas, pintores, escultores,
arquitetos, cientistas, filósofos, advogados, políticos, etc., reuniam-se e
trocavam impressões entre eles e com a comunidade ateniense.
Os
sofistas são mestres de retórica e oratória que percorrem as cidades-estados
fornecendo seus ensinamentos, suas técnicas e suas habilidades aos governantes
e aos políticos em geral. Foram portanto filósofos e educadores que
contribuíram muito ao desenvolvimento dos estudos da linguagem na tradição
cultural grega. A preocupação maior dos sofistas era resolver o problema da
formação do homem político que estava em voga no momento.
Com a cultura grega
impulsionada pelas transformações sociais e econômicas sofrendo mudanças, surgem
novos grupos sociais ligados ao comércio. Tais grupos reclamam uma maior
participação na vida política da Grécia, ao lado disso, surge uma cultura mais
crítica em relação ao saber religioso e mítico que exalta a razão pessoal de
cada indivíduo e é capaz de submeter à análise qualquer crença ou tradição.
Para transmitir essa
nova cultura nasce um novo ideal de educação na Grécia conhecido como Paidéia.
Essa nova visão busca a formação do homem em suas várias esferas (social,
política, cultural e educativa), ou seja, é uma educação de maior abrangência
que considera o homem como um ser racional. Essa educação confere ao homem uma
identidade cultural e histórica.
Os sofistas aparecem
como uma nova estirpe de educadores que se apresentam como professores e que
oferecem, a troco de dinheiro, o ensino da virtude e da areté política. Estes
transformaram a educação em uma arte ou técnica na qual são mestres capazes de
ensinar aos seus alunos todo o conhecimento que necessitam. Essa educação abrange
a formação de homens de Estado e de dirigentes da vida pública. Para que esses homens atingissem êxito
político eles precisavam falar bem, construir discursos persuasivos e ter bons
argumentos que justificassem suas posições. Era preciso dominar a arte
sofística da oratória, da retórica e da dialética.
Dentro desse contexto
de educação, os sofistas foram acusados de ensinar uma educação imoral e que corrompia
a juventude, posto que esta educação desconsiderava os valores tradicionais:
verdade, justiça, virtude, retidão, etc. Esses mestres têm como preceito equipar
o espírito do cidadão para a carreira de homem político, segundo eles o homem
precisava necessariamente amar a política para depois ir à luta. Deveriam ter
uma personalidade forte para se impor como chefe e estar bem preparado para
participar da política.
A
educação sofística contempla educadores capazes de elaborar uma nova técnica,
um ensino mais completo, mais ambicioso e mais eficiente do que aqueles que os
precedem. Eram pedagogos, ou seja, não pertencem rigorosamente à história da
filosofia ou à das ciências, mas eram “Educadores de Homens”, definição segundo
Platão.
Os
métodos usados pelos sofistas eram próximos dos das origens. Havia um
orientador, no caso, um mestre e em torno deste um grupo de jovens que lhe são
confiados para que sejam formados no período de três a quatro anos. Protágoras,
o mais importante e influente dos sofistas e também o primeiro a propor um
ensino comercializado, pedia a quantia de dez mil dracmas, que representava o salário de um trabalhador bem
qualificado. Protágoras precisamente queria tornar seus alunos bons cidadãos
capazes de bem conduzir a própria casa e de terem eficácia nos negócios do
Estado. Sua ambição, portanto, era a de ensinar-lhes a arte da política.
A sabedoria, o valor que ele e seus pares
proporcionam é de caráter utilitário e pragmático, ou seja, não perde tempo
especulando sobre a natureza do mundo e a natureza dos deuses, para ele, se
existem ou deixam de existir não importa, a vida é a principal preocupação. A
vida deve ser bem aproveitada, principalmente na política, possuir a verdade
menos importa que lograr o povo em cima de teses que pareçam com a verdade.
O
aspecto da formação sofística era ensinar os seus alunos a vencer em todas as
discussões possíveis, e para que isso aconteça utiliza-se de métodos oratórios
que visa a confundir o adversário tomando as concessões por ele feitas como
hipóteses de partida. Outro aspecto de sua pedagogia é a arte da persuasão, a
retórica. Esta deveria ser aplicada principalmente à vida política e seu
ensino, desenvolvido desde o tempo de Górgias, pronunciava um discurso modelo e
em seguida os alunos eram convidados a imitá-los.
Os
aprendizes se dedicavam muito, pois para os mestres, o verdadeiro sofista era
aquele capaz de falar sobre qualquer coisa e afrontar quem quer que seja em
qualquer assunto. Para isso eles usavam uma estratégia de redução,
simplificação. Segundo eles todos os assuntos amplificados poderiam ser reduzidos
a ideias simples como o justo e o injusto, a justiça natural e as leis
convencionais.
Os sofistas contribuíram com muitas
inovações introduzidas na educação grega, abrindo muitas vias divergentes,
porém seu extremo utilitarismo os impediram de aplicarem-se mais a fundo em
outras áreas do conhecimento. Em suma, um dos traços mais constantes e mais
nobres do gênio grego para os sofistas era totalmente ao contrário do
pensamento grego anterior. Convém portanto que a criança ou adolescente estude não
para tornar-se um técnico como antes, mas para educar-se apenas.
3 Novo período grego
3.1 Sócrates
3.2 Platão
Platão
nasceu por volta de 427 a.C. em uma família aristocrática de Atenas. Quando
tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande
admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política.
Contudo, a oligarquia e a democracia lhe desagradaram. Com a condenação de
Sócrates à morte, Platão decidiu se afastar de Atenas e saiu em viagem pelo
mundo. De volta a Atenas, com cerca de 40 anos, Platão fundou a Academia, um
instituto de educação e pesquisa filosófica e científica que rapidamente ganhou
prestígio. Platão morreu por volta de 347 a.C. Já era um homem admirado em toda
Atenas.
Platão
foi o primeiro pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para o
seu tempo, mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma dimensão ética e
política. O objetivo final da educação, para o filósofo, era a formação do
homem moral, vivendo em um Estado justo.
3.2.1 O método de
ensino no estado ideal de Platão
É
através de duas obras, A República e As
Leis, que Platão descreve como pensava como deveria ser a
educação. Na
sociedade que Platão idealizou existem três classes: a classe dos artífices e
comerciantes, cuja virtude é a temperança; a classe dos guerreiros, cuja
virtude é a coragem e a classe dos filósofos cuja virtude é a sabedoria. Se a
classe dos filósofos governar, se a classe dos guerreiros se encarregar da
defesa e a classe dos artífices e comerciantes mantiver as duas outras
classes, existirá harmonia e equilíbrio e a justiça poderá ser alcançada.
Na República e nas Leis,
para além de desenhar o seu estado ideal, Platão também define o sistema
educacional que o manterá, apresentando assim as suas ideias sobre a educação,
o valor da poesia e da música, a utilidade das ciências, da filosofia e do
filósofo.
Platão começa por defender uma
sólida formação básica que evolui até elevados estudos filosóficos,
considerando que só indivíduos especialmente dotados poderiam chegar à
filosofia. Para se chegar a este nível de educação é necessário passar por um
nível de formação básica, à qual terá dado o nome de educação preparatória.
Esta terá por função desenvolver de forma harmoniosa o espírito e o corpo.
Segundo Platão, Atenas negligenciava
a educação da juventude, desinteressava-se e deixava-a nas mãos dos
particulares. O estado deveria preocupar com a formação daqueles que seriam os
futuros cidadãos.Para ele, a educação deveria tornar-se algo público, os
mestres deveriam ser escolhidos pela cidade e controlados por magistrados
especiais. Platão defendia ainda que a educação deveria ser igual para rapazes
e raparigas, mas só até aos seis anos. A partir desta idade teriam mestres e
classes diferentes.
Platão defendia que o ensino deveria
durar 50 anos.
Nos primeiros anos de vida, dos 3 aos 6 anos, as crianças deveriam participar em jogos educativos, em jardins especialmente concebidos para elas e sob atenta vigilância.
No entanto, para Platão, como para todos os gregos, a educação propriamente dita, só começaria aos 7 anos.
Nos primeiros anos de vida, dos 3 aos 6 anos, as crianças deveriam participar em jogos educativos, em jardins especialmente concebidos para elas e sob atenta vigilância.
No entanto, para Platão, como para todos os gregos, a educação propriamente dita, só começaria aos 7 anos.
Como formação inicial, Platão
conservou a antiga Paideia grega, escolha que se revestiu de enorme importância para o
desenvolvimento da tradição clássica, permitindo a sua continuidade e o seu
enriquecimento com a cultura filosófica.
A educação antiga da Grécia, era constituída por duas partes: gymnastiké (ginástica) para o corpo e mousiké para alma. Em relação à ginástica, Platão recrimina a função de competição que lhe fora atribuída ao longo dos tempos. Segundo ele, a ginástica deveria regressar à sua forma original, incidindo exclusivamente em exercícios de caráter militar, desempenhados tanto por rapazes como pelas moças, preparando-os para o combate.
A educação antiga da Grécia, era constituída por duas partes: gymnastiké (ginástica) para o corpo e mousiké para alma. Em relação à ginástica, Platão recrimina a função de competição que lhe fora atribuída ao longo dos tempos. Segundo ele, a ginástica deveria regressar à sua forma original, incidindo exclusivamente em exercícios de caráter militar, desempenhados tanto por rapazes como pelas moças, preparando-os para o combate.
O seu programa de jogos
incluía a luta, as corridas a pé, os combates de esgrima, os combates de
infantaria pesada e de infantaria leve, o arremesso de flecha com arco, a
funda, marcha e manobras tácticas, a prática do acampamento e a caça.
Esta preparação militar deveria ocorrer nos ginásios e nos estádios públicos, sob a direção de monitores profissionais cujos honorários seriam pagos pelo Estado.
A ginástica seria iniciada neste nível mais elementar e continuaria até à idade adulta. A sua finalidade não era alcançar a força física de um atleta, mas contribuir para a formação do carácter e da personalidade. Platão considerava que os homens que se dedicavam exclusivamente à ginástica, acabavam por se tornar insensíveis à cultura e eram pouco mais do que selvagens.
Ainda em relação à ginástica, refira-se que Platão inclui nela todo o domínio da higiene, as indicações em relação ao regime de vida e especialmente ao regime alimentar, assunto intensamente tratado na literatura médica do tempo.
À ginástica Platão acrescentava ainda a dança, insistindo bastante na sua prática e ensino, pois considerava-a um meio de disciplinar a espontaneidade dos jovens, contribuindo para a disciplina moral.
Esta preparação militar deveria ocorrer nos ginásios e nos estádios públicos, sob a direção de monitores profissionais cujos honorários seriam pagos pelo Estado.
A ginástica seria iniciada neste nível mais elementar e continuaria até à idade adulta. A sua finalidade não era alcançar a força física de um atleta, mas contribuir para a formação do carácter e da personalidade. Platão considerava que os homens que se dedicavam exclusivamente à ginástica, acabavam por se tornar insensíveis à cultura e eram pouco mais do que selvagens.
Ainda em relação à ginástica, refira-se que Platão inclui nela todo o domínio da higiene, as indicações em relação ao regime de vida e especialmente ao regime alimentar, assunto intensamente tratado na literatura médica do tempo.
À ginástica Platão acrescentava ainda a dança, insistindo bastante na sua prática e ensino, pois considerava-a um meio de disciplinar a espontaneidade dos jovens, contribuindo para a disciplina moral.
No ciclo entre os 10 e os 13 anos, a
criança deveria aprender a ler e a escrever, iniciando em seguida o estudo dos
autores clássicos, integralmente ou em antologias. Para além dos poetas, Platão
defende também o estudo de autores em prosa.
Platão criticava o ensino dos poetas
Homero, pois considerava que os mitos pervertiam a criança e não lhe ensinavam
a virtude. Assim, para ele, as obras de poetas como Homero e Hesíodo davam uma
ideia maliciosa das divindades.
No período dos 13 aos 16 anos, a
música ocupa um lugar de distinção. Para Platão a pessoa retamente educada pela
música, pelo fato de a assimilar espiritualmente, sente desabrochar dentro de
si, desde a sua mocidade e numa fase ainda recuada do seu desenvolvimento, uma
certeza infalível de satisfação pelo belo e de repugnância pelo feio, a qual o
habilita mais tarde a saudar alegremente, como algo que lhe é afim, o
conhecimento da verdade, quanto ele se apresentar.
A música contribui, assim, para a
formação harmoniosa da alma. Segundo Platão, ela não abrange apenas o que
se refere ao tom e ao ritmo, mas também, e até em primeiro lugar, a palavra
falada, o logos.
O estudo das matemáticas foi
sempre reservado a um grau superior do ensino. Para Platão, no entanto, as
matemáticas deveriam encontrar o seu lugar em todos os níveis, começando pelo
mais elementar, sendo aprofundada a partir dos 16 anos e prolongada nos estudos
superiores.
Esta inovação de Platão
inspira-se provavelmente nas práticas egípcias a que a ele teve acesso. Assim,
à aritmética, acrescentou a prática dos exercícios de cálculo ligados a
problemas concretos da vida e dos negócios. Estes primeiros exercícios possuíam
já uma virtude formadora, sendo seu objetivo a aplicação da matemática à vida
prática, à arte militar, ao comércio, à agricultura e à navegação.
Para além da geometria, a que dava a maior importância, Platão defende também o ensino uma ciência totalmente nova. Prevê o estudo da astronomia que deveria permitir adquirir os conhecimentos mínimos para o uso do calendário. Segundo Platão, são precisamente as matemáticas que servem como meio de pôr à prova os espíritos mais aptos a tornarem-se um dia dignos da filosofia. Ao mesmo tempo que selecionam os futuros filósofos, formam-nos e preparam-nos para os seus futuros trabalhos.
Aos 17 e aos 18 anos os estudos intelectuais interrompem-se por dois ou três anos porque aos jovens era imposto o serviço militar.
Para além da geometria, a que dava a maior importância, Platão defende também o ensino uma ciência totalmente nova. Prevê o estudo da astronomia que deveria permitir adquirir os conhecimentos mínimos para o uso do calendário. Segundo Platão, são precisamente as matemáticas que servem como meio de pôr à prova os espíritos mais aptos a tornarem-se um dia dignos da filosofia. Ao mesmo tempo que selecionam os futuros filósofos, formam-nos e preparam-nos para os seus futuros trabalhos.
Aos 17 e aos 18 anos os estudos intelectuais interrompem-se por dois ou três anos porque aos jovens era imposto o serviço militar.
Neste período, segundo Platão, a
fadiga e o sono impedem qualquer estudo.
Aos 20 anos realiza-se uma seleção por meio da qual os menos dotados eram destinados ao exército; numa segunda seleção, levada a efeito mais tarde, a maioria dos jovens era encaminhada para diversas profissões e ofícios civis e só os mais dotados iniciariam os estudos superiores, mas não diretamente para a filosofia. Durante ainda 10 anos, continuam o estudo das ciências, mas agora a um nível superior.
O programa é a aritmética, a astronomia e a música, a geometria.
Aos 20 anos realiza-se uma seleção por meio da qual os menos dotados eram destinados ao exército; numa segunda seleção, levada a efeito mais tarde, a maioria dos jovens era encaminhada para diversas profissões e ofícios civis e só os mais dotados iniciariam os estudos superiores, mas não diretamente para a filosofia. Durante ainda 10 anos, continuam o estudo das ciências, mas agora a um nível superior.
O programa é a aritmética, a astronomia e a música, a geometria.
Todas estas ciências devem eliminar qualquer
experiência prática tornando-se totalmente racionais, por exemplo, a astronomia
deve ser uma ciência matemática e não uma ciência da observação.
As matemáticas são o instrumento da
formação dos filósofos, que através dos problemas elementares de cálculo, devem
ser encaminhados para um grau superior de abstração. Platão diz que as
matemáticas não devem preencher a memória com conhecimentos úteis, mas formar
um espírito capaz de receber a verdade inteligível.
É interessante verificar que
Platão não esquece o papel da educação literária, artística e física na
personalidade e na harmonia do todo, mas este papel não tem comparação com o
desempenho pela matemática na iniciação da cultura que leva à busca da verdade.
Somente aos 30 anos, no fim de um
ciclo de matemáticas transcendentes e depois de um última seleção, se inicia o
método propriamente filosófico, a dialética, discussão do problema do bem e do
mal, do justo e do injusto, caminho para o conhecimento e a verdade.
Passados cinco anos os estudantes
estarão na plena posse deste instrumento, o único que conduz à verdade. Os que
chegarem a esta fase devem ser capazes de ultrapassar a percepção dos sentidos
e penetrar o próprio Ser.
Durante quinze anos ainda, o homem já assim formado deve adquirir experiência participando na vida ativa da cidade.
Durante quinze anos ainda, o homem já assim formado deve adquirir experiência participando na vida ativa da cidade.
Aos cinquenta anos, estará completa
a sua educação, se tiver sobrevivido e superado todas as provas. Ele
reconhecerá a possibilidade de atingir a meta suprema que é a ideia do Bem.
Poderá então exercer um cargo na direção do estado, não como uma honra mas como
um dever.
Este plano de Platão, que abarca a
vida inteira, tem unicamente como objetivo formar um pequeno grupo de
governantes - filósofos, aptos a tomar as rédeas do governo para o bem do
estado.
Em suma, todo o sistema educativo de Platão se
baseia na procura da Verdade cuja posse definirá o verdadeiro filósofo
e também o verdadeiro político. O curso de estudos, para Platão deveria ser
de cinco períodos:
1º-
dos 3 aos 6 anos:
Prática do pentatlo (Nome coletivo de cinco exercícios que constituíam os jogos da Grécia, em que entravam os atletas: salto, carreira, luta, pugilato e disco. Dança e música para ambos os sexos). 2º- dos 7 aos 13 anos: Introdução paulatina da cultura intelectual e acentuação dos exercícios físicos. A partir dos 10 anos, aprendizagem da leitura e escrita e cálculo por processos práticos. Afasta-se assim dos costumes atenienses que começavam a educação intelectual antes dos 10anos. 3º- dos 13 aos 16 anos: Período da educação musical. O programa é dividido em duas secções: uma literária, compreendendo gramática e aritmética; outra musical, compreendendo poesia e música. Ensina-se a tocar a cítara e prefere-se a música dórica, enérgica e viril. 4º- dos 17 aos 20 anos: Período da educação militar. Os jovens deverão adquirir resistência e uma saúde a toda a prova. Será preciso harmonizar a música à ginástica, faziam-se os homens ferozes. Somente com a música, produzir-se-iam os afeminados. 5º- dos 21 anos em diante: Apenas os jovens mais capazes devem continuar a educação já com caráter superior e baseada nas Matemáticas e Filosofia. Entre eles, selecionam-se os futuros governantes, prosseguindo sua educação até os 50 anos. Essa educação pode ser distribuída da seguinte forma: · Dos 21 aos 30 anos: estuda-se com profundidade: aritmética, geometria e astronomia. · Dos 31 aos 35 anos: predomínio da formação filosófica e dialética, sem prejuízo dos estudos matemáticos. · Dos 35 aos 50 anos: O magistrado será incumbido de uma função pública e empregará os seus talentos para a prosperidade do Estado. Ninguém será admitido ao governo, antes dos 50 anos de idade. |
Fonte: Mário
Ferrari
3.3 Aristóteles
Aristóteles
(384-322 a. c.) filósofo grego
filho de Nicômaco, médico de Amintas, rei da Macedônia, nasceu em Estagira,
colônia grega da Trácia no litoral setentrional do mar Egeu em 384 a.C. Aos
dezoito anos, em 367, foi para Atenas e ingressou na academia platônica onde
ficou por vinte anos até a morte do Mestre. Nesse período estudou também os
filósofos pré-platônicos que lhe foram úteis na construção do seu grande
sistema. Em 343 a. C. foi chamado por Felipe II, da Macedônia, para educar seu
filho, Alexandre, e permaneceu na função durante vários anos. De volta a
Atenas, Aristóteles fundou a própria escola, o Liceu, desenvolvendo uma obra
antiplatônica.
O filósofo valorizava a inteligência humana como
única forma de alcançar a verdade. Fez escola e seus pensamentos foram seguidos
e propagados pelos discípulos. Pensou e escreveu sobre diversas áreas do
conhecimento: política, lógica, moral, ética, teologia, pedagogia,
metafísica, didática, poética, retórica, física, antropologia, psicologia e
biologia. Publicou muitas obras de cunho didático principalmente para o público
geral. Valorizava a educação e a considerava uma das formas de crescimento
intelectual e humano. Sua grande obra é o livro Organon, que reúne grande parte de seus pensamentos.
Aristóteles passou a ser perseguido por ter
colaborado na educação do imperador macedônio. Refugiou-se em Cálcis, onde
morreu em 322 a. C. Entre os
teóricos gregos da educação, Aristóteles foi o que maior influência exerceu
sobre as épocas posteriores, pela amplidão de interesse e multiplicidade de atividade
que ele se dedicava, antecipou os tempos modernos e é considerado globalmente o
homem mais culto de todos os tempos.
3.3.1 Formulação do ideal educacional
Para Sócrates e Platão o conhecimento era o traço
que unia o interesse individual e o bem-estar social, por isso constituía a
finalidade da educação; já para Aristóteles, essa finalidade era felicidade ou
o bem. Para os primeiros, a posse do conhecimento pelo
indivíduo constituía a virtude. Para o último, a virtude estava na conquista da
felicidade ou do bem.
A
virtude, não consistia no conhecimento, mas num estado da vontade. Ora, um
estado da vontade não é tanto uma
condição quanto um processo; por isso, o bem, o mais alto fim atingível pelo
homem, não é uma condição, mas uma atividade.
Para
Platão a realidade consistia em ideias, em pensamento puro, a mais elevada
aquisição possível para um indivíduo era o conhecimento. Já para Aristóteles,
a realidade consistia na realização pelo objeto, pela entidade ou pelo fato, do
seu próprio fim, isto é, de sua mais alta e adequada função. Por isso, a
realidade é atividade ou realização de função, ou um "processo", quer
seja de um fenômeno da natureza (físico) ou do homem (social).
O bem para o homem está no
funcionamento da parte mais elevada da natureza humana, isto é, a razão. A
função da razão é reger a conduta. Consequentemente há duas espécies de bem, o
"bem do intelecto" e o "bem do caráter".
O bem do intelecto é produzido e ampliado
pelo ensino e é o produto de experiência e tempo, já o bem do caráter é o
resultado do hábito. Como a natureza não dá nem priva ninguém do bem do caráter,
todo homem pode alcançar esse bem pela formação de hábitos corretos. O bem, na
sua integridade, resume-se, pois, em bem ser e bem fazer. O bem
ser é o bem do intelecto, ligado intimamente à posse da verdade universal
da escola platônica e proporciona o desenvolvimento e o bem-estar do indivíduo.
O bem fazer é o bem da ação adquirido através do hábito, e representa o
aspecto social do ideal aristotélico.
A
virtude não consiste no simples conhecimento do bem, mas no funcionamento
desse conhecimento, de ideias ou princípios. Nesse sentido, Aristóteles,
considerava o "bem" como uma forma de eficiência ou excelência, como
uma superioridade de conduta mais do que um estado mental.
A felicidade é o resultado de tal
atividade, de tal funcionamento de ideias, na vida social. Por tanto, a suprema
excelência do homem, o seu bem, consiste no funcionamento em sua vida social
das ideias ou princípios de conduta de validez universal. Apresenta assim,
Aristóteles, a mais perfeita solução conseguida pelos gregos, do problema da
vida e do problema da finalidade da educação.
3.3.2 O método da
educação
Em
síntese, o resumo de Aristóteles é objetivo e científico em oposição ao método
filosófico e introspectivo de Platão. Platão procura a verdade na visão da
razão, e a confirmação dessa verdade na consciência do homem. Aristóteles
procura a verdade nos fatos objetivos da natureza e da vida social, tanto
quanto na alma do homem, e busca a confirmação primariamente na consciência
histórica da espécie.
Para Aristóteles o método dialético de
Platão, que procura a verdade na pura especulação, alcançava apenas verdades de
valor formal; ele, ao contrário, procurava a verdade na experiência da espécie,
aperfeiçoando desta forma o método indutivo, o qual aplicava tanto objetiva
como subjetivamente. A dialética socrática tinha sido aplicada apenas ao mundo
de pensamento. Aristóteles, antes de qualquer outro filósofo, procurou o
sentido dos termos e dos fatos na consciência da humanidade, Depois procurou a
confirmação pelo processo introspectivo. Os métodos indutivo e dedutivo já
existiam anteriormente e a história deles, como modos de raciocínio, se
confunde com a história da espécie humana. Mas com Aristóteles eles se tornam
processos conscientes. Foi ele o primeiro a formular a lógica de cada um desses
métodos.
Aristóteles usou método- indutivo, não só
mais amplamente do que qualquer outro homem anterior há seu tempo, mas também
mais amplamente do que qualquer homem em épocas subsequentes. Aristóteles
representa a culminância da vida intelectual grega, visto que, na formulação de
seu sistema filosófico, aplicou o método indutivo a todos os sistemas
anteriores do pensamento grego; e é considerado o pai da ciência moderna por
ter aplicado tal método a campos completamente novos investigação.
Como Aristóteles concebia a organização
da educação vem formulada em sua obra A Política. Como no caso de
Platão, o sistema da educação forma uma parte componente do sistema do Estado.
Mais uma vez Aristóteles antecede os
tempos modernos, pois somente 2.000 anos mais tarde, é que a educação voltaria
novamente a ser considerada como uma função do Estado e tratada como uma parte
da política.
O plano defendido por Aristóteles é
composto de elementos aproveitados principalmente da educação ateniense e é
similar em muitos aspectos ao de Platão. A criança até 6 anos seria educada
pelos pais. Após esse período deveria ser controlada pelo governo, mas ao mesmo
tempo os pais seriam também responsáveis pela educação moral.
A educação do ginásio teria por objetivo
desenvolver bons e dirigir as paixões e apetites; não visaria apenas à
superioridade nos exercícios atléticos, nem ao desenvolvimento da aspereza e da
ferocidade dos soldados. As matérias tradicionais, música e literatura, são
aceitas como meios apropriados para educação moral e para o primeiro estádio da
educação intelectual.
Todos os cidadãos têm de participar
igualmente nessa educação, embora os escravos e os artífices não possam
conquistar a cidadania, nem atingir, portanto, a vida superior ou perfeita.
Quanto á educação superior, a fase da
educação que constituía um fim em si mesma e
importava no bem para tudo o mais, Aristóteles na deixou dados. O
tratado encerra-se aqui abruptamente, ficando em simples menção um problema que
Aristóteles, mais do que ninguém, poderia elucidar.
Porém, por suas outras obras, nos
cientificamos de que essa educação superior deveria abranger as matemáticas causa
do treino em raciocínio dedutivo que proporciona, especialmente a geometria e
as duas ciências matemáticas, física e astronomia. Do próprio exemplo de
Aristóteles podemos presumir que, além disso, incluiria as ciências biológicas
e, acima de tudo, a dialética, que compreendia os estudos filosóficos e lógicos
amplamente desenvolvidos em sua própria escola.
Após essa educação teórica e intelectual, ou
talvez simultaneamente, ministrava-se a educação prática em cidadania. Ele
inclui dois tipos de atividades, a prática ou executiva teórica ou legislativa
e judiciária. O cidadão, por intermédio das atividades práticas, chega às
atividades de natureza teórica e dedica a sua vida, cada vez mais, a objetivos
puramente, intelectuais. Nessa busca das coisas do espírito, aqueles que se
familiarizam com a pura vida do espírito entram no sacerdócio. E assim,
gradualmente, a vida prática se transforma na vida "especulativa", e
os menores bens evoluem até o supremo bem, ou seja a vida boa, ou a vida perfeita.
As obras: A Ética, a
ciência de "bem ser” e A Política, a ciência de
"bem fazer", exerceram uma influencia profunda na vida intelectual do
homem em todos os períodos subsequentes.
Aristóteles foi o primeiro grande cientista e um grande sistematizador. Na obra
Organon
(tratado sobre a Lógica), Aristóteles foi primeiro a formular
conscientemente as bases para o pensamento científico em qualquer direção da
atividade intelectual.
Tão fundamental foi a influência de
Aristóteles nesse aspecto que o pensador científico, lhe devem muitos dos mais
expressivos termos da linguagem.
Palavras como "fim", indicando o propósito final ou causa; o termo "causa
final", para indicar fim nesse sentido a palavra "forma"; a
palavra "matéria", tanto no sentido de substância, quanto no de
matéria de estudo, e o termo "material de trabalho'" (do termo
correspondente à madeira sobre a trabalha o carpinteiro) como a usamos ainda
hoje em educação; palavras tais como "princípio", "máxima",
"motivo", "faculdade", "energia", "hábito",
"categoria", "meio" e "extremo. Todas são o resultado de seus esforços para
sistematizar o conhecimento.
Mediante a formulação parcial do método
indutivo e aplicação do pensamento a novas fases da realidade quase totalmente
ignoradas antes do seu tempo, Aristóteles tornou-se o fundador de muitas
ciências modernas. Entre aquelas sobre quais escreveu tratados, estão à
fisiologia, a mecânica, a filosofia natural ou física em seus princípios mais
amplos e a biológica correspondente, a história natural.
Reconhecido universalmente como o maior
dos antigos, Aristóteles conservou esta posição suprema até o Renascimento do
século xv. Com a escolástica, suas obras passam a constituir a base de todos os
estudos e de todas as instituições educativas da Idade Média. Na verdade,
pode-se dizer que durante a Idade Média todas as obras seculares, salvo as de
Aristóteles e algumas de outros autores baseadas, aliás, diretamente nas de
Aristóteles, ficaram à margem dos interesses humanos.
A influência imediata na Grécia não foi tão fundamental.
Sua escola de adeptos, os peripatéticos, não atingiu seu alto nível fez pouco
ou nenhum uso da indução e despendeu o tempo em escrever comentários ou
interpretações e adaptações inúteis, principalmente sobre tópicos isolados.
As obras do mestre foram levadas para a Ásia
Menor (287 a. C.), onde por
cerca de 200 anos estiveram perdidas,
até que foram recolhidas e encaminhadas para a Biblioteca de Alexandria e mais
tarde para Roma. Traduzido para o árabe, o saber de Aristóteles perpetuou-se
entre os sarracenos. O estudo de Aristóteles, iniciado a princípio em Bagdá,
floresceu mais tarde em todo o império sarraceno, chegando até à Espanha.
Considerações Finais
Após
os dados trazidos por essa pesquisa, das discussões travadas podemos tecer
algumas considerações a respeito do que representou a educação grega para a
civilização ocidental. Num primeiro momento aquele que conseguisse cumprir os
requisitos dos vários modelos educacionais que vimos, tanto do período antigo
quanto o período novo com a educação ateniense e espartana, estaria pronto para
desempenhar a função de cidadão, essa é a principal preocupação em comum de
todas as fases da educação grega.
Vimos
também que para a execução dessas tarefas da educação deve muito à paideia. Para
Aristóteles, por exemplo, tem o dever estrito de legislar sobre a educação, há
uma responsabilidade pública de instruir o cidadão, como acontecia na
"póleis aristocrática" de Esparta (ARISTÓTELES, Plítica IV, 4-6).
A
educação grega além de assumir essa postura de instrução pública do ensino, no
sentido de manter a responsabilidade política do Estado, vislumbrava a
iniciação à ciência. Aqueles que assumissem por conta própria o estudo das
ciências poderia dominar diversas áreas do conhecimento e se destacar na polis,
isso significa para Platão (República. VII) uma posição na hierarquia da polis
que lhe conferia uma retidão moral proporcional a seu desempenho intelectual.
Tanto
em Platão quanto em Aristóteles, vemos uma correlação frente aos domínios de
modelos educacionais e o modelo de cidadania devido ao próprio conceito de
paideia. Em suma, podemos defender que essas posturas estão ligadas à modelos
concebidos e fechados, pois dedicam-se a um ideal de cidadania para servir à
polis.
Essa
posição talvez tenha custado algumas críticas, ou seja, esses modelos acabavam
por atingir apenas os grupos restritos. Citamos aqui apenas o exemplo de Platão
e Aristóteles, mas a educação espartana e a ateniense também restringiam-se aos
seus cidadão e seus objetivos específicos. Logo, o modelo de educação pública
de fato, com o surgimento de escolas surge no período Helenístico.
Esse
talvez tenha sido o único ponto que a paideia não contemplou. No período
Helenístico, os ginásios e a escola pública se tornam eficazes na prática, como
previa os educadores na educação grega, mas não atingiram esse modelo de fato.
Foi nessa época que a educação deixa de pertencer às especificidades e torna-se
um faceta de regulamentação oficial, Esse
modelo foi atingido com grande efervescência com a educação romana, que
historicamente vem após a educação grega.
Contudo,
fato é que, como acontece com as obras homéricas Ilíada e Odisseia que
integram o cânone da literatura universal, a educação grega como um todo é um
grande modelo para a história da educação ocidental. Metaforizando a leitura
dessas duas epopeias, é uma maneira de conhecer outras formas de escrita, de
humanização, de educação que ainda ecoa em nossa história.
Referências
Bibliográficas
ARANHA, Maria lucia Arruda. História da educação e da pedagogia geral e
do Brasil. São Paulo: Moderna, 2011.
FERRARI, Márcio. A pedagogia de Platão. Disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/platao-307607.shtml
Acesso: 28 de setembro de 2012.
MANACORDA, Mário Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 4.ed. São
Paulo: Cortez Editora, 1989.
MARROU, Henri
Irénée. História da educação na
antiguidade. 4.ed. São Paulo: E.P.U. Editora Pedagógica e Universitária,
Brasília, 1975.
MONROE, Paul. História
da educação. 14.ed. São Paulo: Editora Nacional, 1979.
POMBO, Olga. O ensino na academia de Platão. Disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/academia/academia3.htm
Acesso: 28 de setembro de 2012.
REALE, Giovanni. História
da filosofia: filosofia pagã antiga, v.1. 5.ed. São Paulo. Paulus, 2011.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Fotos dos membros da sala do segundo semestre de filosofia.
Peço que os alunos do segundo semestre de filosofia da Universidade Católica Dom Bosco me envie fotos de suas férias com depoimentos da mesma, para nos manter informados e matar a saudade.
sábado, 8 de dezembro de 2012
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